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Bernardo Soares

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Biografia
Livro do Desassossego

Bernardo Soares é considerado, por Fernando Pessoa, como um semi-heterónimo, isto porque, como afirma na carta escrita a Adolfo Casais Monteiro, “(…) não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade.” 

Bernardo Soares era um homem que aparentava trinta anos, era magro e não era nem muito alto nem muito baixo. Quando se sentava, ficava exageradamente curvado e o seu estilo de roupa era um pouco desleixado (assim como alguém que conhecemos).Não há muito que se possa dizer sobre esta personagem criada por Fernando Pessoa. Sabe-se que a sua ocupação profissional era ser ajudante de guarda-livros, em Lisboa, e que frequentava uma casa de pasto. Foi nesse local que conheceu Fernando Pessoa e lhe deu a conhecer o Livro do Desassossego, “a obra da sua vida”, na qual o próprio Pessoa escreveu um prefácio. 

Apesar de a data mais antiga num excerto do Livro do Desassossego ser 22 de março de 1929, pensa-se que possa ter sido começado ainda em 1928. É difícil organizar esta obra por ordem cronológica, uma vez que muitos trechos não estão datados. Como o próprio Pessoa nunca chegou a organizar a obra e esta não apresenta ordem aparente, há quem defenda que não tem uma ordem de leitura, até porque as reflexões interiores da obra não apresentam resolução nem conclusão. 

Embora seja difícil separar Soares do Livro do Desassossego, este semi-heterónimo já existia por volta do ano 1920, num projeto relativamente longo de obras em curso como Fausto, a poesia dos três principais heterónimos, Pessoa ortónimo...etc. No caderno em que se encontrava esse projeto estavam dez contos atribuídos a «B.Soares» entre outras passagens. Tem-se assim Soares como um autor de contos inacabados, sendo o estilo preferido a prosa. 

Foi apenas nos anos 80’s que esta figura começou a ganhar alguma relevância após a publicação pela primeira vez do Livro do Desassossego, pois foi assim que a sua complexa personalidade foi relevada, e o que passou de parecer apenar um interessante prosador no “universo pessoano” para ser das figuras mais relevantes nesse mesmo universo. 

Segue-se apenas uma passagem em que Soares explora delicadamente zonas mais secretas da alma:  

«A ânsia de compreender, que para tantas almas nobres substitui a de agir, pertence à esfera da sensibilidade. Substituir a Inteligência à energia, quebrar o elo entre a vontade e a emoção, despindo de interesse todos os gestos da vida material, eis o que, conseguido, vale mais que a vida, tão difícil de possuir completa, e tão triste de possuir parcial. Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver.» 

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